sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

CACHOEIRA DO ARARI E OS SEUS PATRIMÔNIOS



Vera Lúcia Mendes Portal

O município de Cachoeira do Arari está localizado na região dos campos, na parte leste da ilha de Marajó. Cachoeira do Arari é uma pequena e pacata cidade marajoara que, apesar da sua simplicidade, possui um valioso patrimônio histórico-cultural. As belezas naturais dos campos e dos rios encantam os visitantes, que para lá se deslocam para conhecer um pouco mais da sua história – passada e presente - na exposição do Museu do Marajó.
Antes de ser desta forma como conhecemos hoje, Cachoeira (como a chamamos) era bem diferente. No período anterior à chegada dos portugueses, a região foi ocupada por várias populações indígenas que ali deixaram suas marcas. Encontra-se pelos campos esses vestígios a que chamamos de sítios arqueológicos; são grandes colinas de terra recheadas de cerâmicas antigas, restos de objetos confeccionados e utilizados por essas populações no passado. Essas colinas ou aterros são chamados de tesos, e foram construídos por povos indígenas muito criativos e responsáveis pela confecção de materiais cerâmicos de rara beleza.
O patrimônio histórico-cultural de Cachoeira, entretanto, não se faz apenas da herança indígena, mas também de edificações de valor histórico. Destacamos alguns exemplos dos bens culturais do município: Antigo Internato do Marajó - prédio construído em 1940 era o local onde moravam os filhos dos vaqueiros que vinham à Cachoeira para estudar. Atualmente, neste local, funciona a Escola de Ensino Fundamental José Rodrigues Viana.
Centro Cultural Maria das Graças Moreira Neves - onde funciona a Biblioteca Municipal.
Marco do Sesquicentenário da cidade, erguido em 1983, monumento em forma de arco com decoração em estilo marajoara.
Residência do escritor Dalcídio Jurandir - casa de madeira que serviu de moradia para o célebre escritor romancista paraense, autor de muitas obras literárias, como “Chove nos Campos de Cachoeira”.
O Museu do Marajó, que abriga uma exposição permanente que conta um pouco da história do município e do Marajó.

Giovanni Gallo e a trajetória do Museu do Marajó

O Museu do Marajó foi criado por Giovanni Gallo, padre jesuíta italiano nascido em Turim, que se naturalizou brasileiro. Giovanni Gallo, após anos de estudo, foi nomeado sacerdote da companhia de Jesus, iniciando sua atividade sacerdotal em 1956, na Espanha, aos 29 anos de idade. Depois de algum tempo de trabalho, foi transferido para a Ilha da Sardenha, na Itália. Em
1962, padre Gallo foi enviado à Suíça Alemã, onde ficou durante oito anos, vindo para o Brasil, em 1970.
Depois de ficar por dois anos em São Luís, no Maranhão, em 1972, Giovanni Gallo chega ao Marajó, fixando-se, inicialmente, em Santa Cruz do Arari, lugar onde aos poucos começou a construir o Museu do Marajó. Um dia Gallo recebeu de um morador alguns “cacos” de cerâmica e principiou então a coletar objetos e utensílios de vários tipos e idades, visando à formação de um acervo, enriquecido graças às crescentes doações. Assim, de uma forma bem simples, em 1972, na cidade de Santa Cruz do Arari, nasceu o Museu do Marajó.
Ao tomar a atitude de criar um museu, Giovanni Gallo tinha como objetivo contribuir para o desenvolvimento da cidade por meio da cultura e tornar a comunidade parceira de seus projetos.
Como bem explica o idealizador do Museu, sua meta era fundar um estabelecimento que despertasse e incentivasse o interesse pelo estudo na comunidade local:
“Nos meus planos, este museu teria a missão de resgatar e conservar a nossa história, ajudando-nos a valorizar nossa identidade e, ao mesmo tempo, incentivando na comunidade o interesse para o progresso intelectual”.
“Um museu que tivesse como objetivo de pesquisa não só as coisas isoladas e sim as coisas no seu contexto cultural, em última analise o homem marajoara”.
“Desta forma, um empreendimento tipicamente intelectual se transformaria em pólo de desenvolvimento social”.
Assim, no dia 16 de dezembro de 1981, no município de Santa Cruz do Arari, foi fundada uma associação com o nome de “Nosso Museu de Santa Cruz do Arari”.
Depois de desavenças políticas entre o padre e autoridades municipais de Santa Cruz, que tornaram insustentável a presença do Museu naquele município, uma Assembleia realizada entre os sócios, no dia 14 de julho de 1983, decidiu por mudar o Museu, e todo o acervo já constituído, para Cachoeira do Arari. Nesta mesma Assembléia, um novo nome foi dado ao Museu, que doravante passaria a chamar-se “O Museu do Marajó”. O motivo da mudança do Museu do Marajó foi a oposição política que o prefeito da localidade, Eurípides Filho, movia contra o projeto de Giovanni Gallo. A instituição Museu do Marajó, já instalada em Cachoeira do Arari, foi aberta ao público em 8 de dezembro de 1984, enquanto continuavam os serviços de recuperação e instalação do novo prédio.
Ao chegar a Cachoeira, Gallo teve de começar da “estaca zero”, pois durante a mudança muitas peças foram perdidas ou danificadas. Na busca de um local para instalar o acervo do Museu do Marajó, o padre resgatou a dívida de uma antiga fábrica de óleo chamada OLEICA, perante BASA, com o dinheiro que havia arrecadado com a venda do prédio do Museu em Santa Cruz do Arari. A Oleica havia falido e o prédio estava abandonado e em péssimas condições para o uso. A Prefeitura Municipal de Cachoeira do Arari, através do então prefeito Edir de Souza Neves, doou uma área bem próxima ao prédio do Museu, terreno onde estão localizados outros espaços que fazem parte do conjunto de edificações do museu.

O Museu do Marajó e sua exposição permanente
O Museu do Marajó fica localizado na Avenida do Museu, bem no centro da cidade, nas proximidades do Mercado Municipal, do Comando da Policia Militar, da Agência do Correio, da Câmara dos Vereadores, da Prefeitura Municipal, da praça e do trapiche de onde ficam os barcos que fazem viagem com destino à Belém. O Museu nasceu de forma simples e com muitas dificuldades; no entanto, Giovanni Gallo, com apoio dos sócios e da prefeitura Municipal de Cachoeira do Arari conseguiu ajuda financeira para a melhoria e a instalação de espaços que hoje o constituem. Em 2003, o Padre Giovanni Gallo veio a falecer e o Museu ficou sob a gestão do presidente da Associação.
O Museu do Marajó oferece diversas atividades para a comunidade. A área da exposição permanente mede cerca de 1.000 m2. O prédio é de alvenaria e, além da exposição, ainda comporta uma sala de palestra e uma biblioteca. Na área externa ao prédio há um terreno arborizado, a reserva técnica, a Casa do Ribeirinho, a residência e o túmulo de Giovanni Gallo. Ao lado do Museu localizam-se os banheiros de uso público e o barracão da oficina cerâmica. Em frente ao Museu do Marajó há outros espaços que fazem parte de seu conjunto: a Fazendola, a Escola Oficina e a Capela de São Pedro.
A reserva técnica foi inaugurada em 2008, tendo sido construída com patrocínio da Petrobrás, e serve para a limpeza e a guarda adequada do material arqueológico. A Casa do Ribeirinho
Marajoara é feita de taboca e coberta de palha, bem simples, mas representativa do estilo de moradia local. A Fazendola é um espaço destinado às reuniões com a comunidade e sempre abriga grupos que vão à cidade. Recentemente, quando as enchentes de 2009 afetaram as populações do bairro do Choque, os desabrigados foram alojados ali. A Capela de São Pedro é feita de madeira e servia para Giovanni Gallo celebrar suas missas. Com a renúncia ao sacerdócio, novas funções foram dadas a esse espaço, dividindo-se em três partes: a Escola de Informática, a Sala de Corte e Costura e a Secretaria do Museu.
A exposição encontra-se no prédio principal com a seguinte identificação: “Museu do Marajó – Nosso Museu”. O acervo está disposto em um grande salão e cada exposição é identificada pelo tema, que se refere às populações marajoaras ou aos seus antepassados. Partes da exposição são separadas por paredes que são feitas de taboca - árvore de formato cilíndrico e resistente, contendo objetos dos dois lados. No centro do salão há uma escada que leva à parte superior onde se vê outra parte da exposição.
A partir daqui vamos fazer uma rápida visita ao acervo que está na exposição do Museu do Marajó. Ao entrar no prédio deparamo-nos com o saguão de visitantes, onde são passados filmes e feitas palestras; à direita encontra-se o balcão da recepção onde são vendidos os ingressos para a visita ao acervo. À esquerda de quem entra, está a porta que leva ao salão da exposição permanente. Ao adentrar o Museu do Marajó, o visitante já encontra várias vitrines com objetos de cerâmica marajoara, que formam a exposição de Arqueologia e ocupam boa parte do salão principal. Os objetos e fragmentos expostos são, em sua maioria, originais; no entanto, a maioria deles não têm uma etiqueta explicativa com dados referentes à procedência do material. Além de muitos fragmentos, há nesta exposição urnas funerárias, tangas, estatueta, pratos, cachimbos, líticos, amoladores polidores, banquinhos, etc.
O Museu é um espaço com uma função social e seu objetivo não é apenas a conservação do seu acervo, mas a constituição de um centro educativo para as crianças, os jovens e a comunidade local, pretendendo com isso trazer melhorias para a cidade. O Museu do Marajó é interativo e estimula a curiosidade do visitante, que pode mexer em uma plaquinha, puxar um fio, rodar uma manivela e assim por diante, tirando dúvidas e criando outros questionamentos, que o levam a adquirir novos conhecimentos.
Um pouco da história cachoeirense pode ser encontrada no Museu do Marajó e nos próprios sítios arqueológicos. Pelo Museu do Marajó, os alunos e a comunidade em geral podem ter acesso a informações sobre a história da região cachoeirense e participar de projetos que beneficiam a todos.
A preservação do patrimônio cultural local
Conhecer a história dos municípios marajoaras não é uma tarefa fácil, porque pouco se conhece e quase nada se tem escrito a esse respeito. Mas as pesquisas realizadas nos sítios arqueológicos têm obtido resultados que nos ajudam entender como viviam essas sociedades, permitindo-nos conhecer um pouco mais da história destas realidades paraenses.
Cachoeira do Arari é um desses municípios do chamado Marajó dos Campos, com uma rica história a ser conhecida e contada. Das pesquisas desenvolvidas na região cachoeirense, as primeiras ocorreram nos sítios arqueológicos de Camutins e Pacoval, que foram visitados e explorados por vários cientistas e também muitos curiosos, alguns dos quais coletaram material arqueológico sem a devida preocupação com seu registro e procedência. Dentre os arqueólogos que pesquisaram no Marajó podemos citar: Betty Meggers, Clifford Evans e Peter Paul Hilbert (que estudaram sítios em Chaves e Ponta de Pedras, no alto rio Anajás), Napoleão Figueiredo, Mário Simões, Conceição Correa e José Cardoso (que estudaram sítios de Cachoeira do Arari), e por último Anna Roosevelt e Denise Pahl Schaan (que pesquisaram no alto rio Anajás, município de Ponta de Pedras, e Cachoeira do Arari).
O patrimônio histórico, cultural e arqueológico de Cachoeira do Arari e dos Marajós como um todo deve ser preservado para as futuras gerações. O patrimônio arqueológico é protegido pela
Lei Federal nº 3.924/61, que proíbe a destruição de sítios arqueológicos e a remoção dos objetos neles encontrados.
A educação é um valioso instrumento a ser usado no processo de preservação. As escolas devem aproveitar o acervo do Museu do Marajó e os sítios arqueológicos para sensibilizar os alunos quanto à importância do patrimônio local. As visitas ao Museu do Marajó podem enriquecer o conhecimento, tirar dúvidas e criar outros questionamentos, capazes de incentivar os alunos na busca por novos conteúdos.
Preservar o patrimônio de uma cidade ou de um povo pressupõe um exercício constante de cidadania. Neste caso, mais uma vez entra em cena a educação. É necessário que as escolas apóiem práticas educativas que estimulem os alunos a conhecer a sua história local a partir dos bens culturais da cidade. Ao trabalhar em sala de aula a valorização do patrimônio local e regional, o professor pode possibilitar aos alunos sentirem-se parte integrante desse processo histórico, o que facilita a apropriação do patrimônio e a ideia de pertencimento.
A valorização do patrimônio histórico, cultural e arqueológico a partir da escola deve inspirar outros municípios detentores de bens culturais, que contem a sua história. Sabe-se que a valorização dos bens culturais de uma comunidade varia de acordo com o envolvimento e com o sentimento de pertencimento que as pessoas possam ter por esses bens. Por isso, é de fundamental importância que as escolas comecem desde cedo a trabalhar com seus alunos a temática do patrimônio. Isto ajuda aos alunos perceberem que tudo isso faz parte de uma história em construção ao longo dos tempos, cujos atores somos todos nós.
O Museu do Marajó, por ser um espaço que conta e faz parte da cultural material local, deve ser apropriado pelas escolas cachoeirenses, fazendo a ligação entre passado e presente da história local. Os museus também devem ser preservados por todos. Os municípios detentores de um espaço que permita contar a história local, ou que guarde a sua cultura material, devem incentivar os professores a optarem por projetos nos quais os alunos tenham contato direto com sua história. Assim, teremos cidadãos capazes de atuar na preservação de seus bens culturais.




terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A OLARIA DO "SEU" JOAQUIM.

Trecho copiado do blog do Sr Raimundo Dias Pereira.  

em www.rdiaspp.blogspot.com.br




Alguns dos meus conterrâneos não devem lembrar, mas ali no ponto certo, além da serraria que não existe mais, tinha a Olaria do seu Joaquim Mariano, provavelmente não se tem nem foto daquelas instalações. Além do parentesco dos proprietários, naquela época, os funcionários eram muito unidos e constantemente jogavam bola na moinha, que era um campinho feito com serragem que vinha da serraria. Aquela “pelada” era bastante concorrida e alí jogaram alguns meninos que tinham intimidade com a bola, como o Marciano e Zé Tabaco, filhos do Sr.Luiz Tabaco, dentre outros.

O terreno da Olaria começava depois da Casa Prosperidade, que era do seu Chico Goiaba e depois passou para o seu Nemorino. Tinha a barbearia do Altino e vinha uma parede de madeira da Olaria do seu Joaquim Mariano. Meu Pai e meu Irmão Maximino trabalharam lá.

Eu era garoto e frequentemente ia buscar meu Pai que fazia "cerão". Quando ia ao Itaguarí, era assim que chamávamos Ponta de Pedras, sempre ia na Olaria. Eu gostava de ver o ambiente daquela turma trabalhando, ganhavam pouco e dinheiro era difícil de ver, só vale, que seu Joaquim dava pra ser aviado no seu Chico Goiaba. Eu observava que, aquele pessoal era feliz. Ainda lembro como se tratavam e as funções que exerciam por ali:

a)     Vadico (apelidado de Bararu) – Era meu Pai, trabalhava no amassador de barro. O barro era amassado e podia ser feito tijolos ali mesmo ou preparado para fazer telhas. Nas horas de folga meu Pai tocava viola nos cordões que saiam na quadra junina;

b)    Miguel do Binga, Raimundo Simplício e Nelito, faziam telhas com uma habilidade incrível e arrumavam nas prateleiras para secar. Nas horas de folga o Miguel do Binga era vaqueiro de Boi na quadra junina e o Raimundo Simplício cortava cabelo, depois inaugurou uma barbearia ali em frente ao mercado novo. Aquele mercado foi construído onde era a casa da dona Tapuia, mãe do Custódio e da Adelina. O Nelito passou a trabalhar na SUCAM e recentemente, o encontrei na embarcação que faz o transporte de cargas e passageiros para Ponta de Pedras. Ainda tinha o Cuiú, que trabalhou um tempo fazendo telhas, depois passou para o transporte de barro dos barreiros.

c)     BELO – Trabalhava com meu Pai no amasador. Num carrinho de mão, feito de madeira, inclusive as rodas, carregava o barro para abastecer os oleiros que faziam as telhas ou levava os tijolos para secarem nas prateleiras;

d)    PAQUETÃO – era o forneiro, responsável pelo perfeito contrôle da temperatura para o bom cozimento das telhas e tijolos. Era comum ir várias vezes botar lenha no forno mesmo que estivesse num ajuntamento.Vi o Paquetão jogando de centrefour, hoje controavante, num campo que existia onde fica a catedral, naquele campo, asisti inúmeras partidas dos times pontapedrenses, alí o Paquetão fez bonito com a bola nos pés;

e)     Maximino – Era quem ia buscar o barro nos barreiros, para isso, usava os batelões da Olaria. Ia e voltava gingando com remo de faia. Na volta, tinha que chegar com a maré cheia para que o batelo entrasse numa baixa (riacho) que existia ao lado da Olaria para descarregar, hoje o riacho já foi aterrado. O Maximino fazia essa faína sozinho, às vezes, levava um ajudante, eu ainda fui  quando estava de férias por aí. Nas horas de folga meu irmão gostava de ser amo de cordões e modéstia à parte, era um dos melhores.

Para completar, falta o nome da pessoa que fornecia a lenha para manter o forno aceso, como não era funcionário da Olaria, não tenho lembrança, contudo, um cidadão que tinha uma deficiência na mão, conhecido como Jereba, geralmente descarregava lenha por alí.

Quando estive em Ponta de Pedras pela última vez fui tomar um banho no Ponta Certo e passando pelo antigo campinho de moinha,notei que tudo foi invadido e hoje talvez não seja possível manobrar um carro pequeno naquele espaço. Ao subir na ponte a primeira recomendação que recebi era para ter cuidado com a poluição, pois, existia um esgoto sanitário despejando dejetos ali junto ao ex-campo, na beira do Rio. Não confirmei, mas posso afirmar que, aquelas casas que foram construídas no lugar da Olaria, algumas devem jogar esgoto sanitário no Rio porque pode-se visualizar o cano se olharmos daquela rampa que fica ali perto. É uma lástima. 

É uma pena que a Olaria tenha terminado assim,que em seu lugar, construiram uma vila sem nenhum projeto que pudesse tornar a frente da cidade mais bonita.Aquele terreno certamente está incluído nos terrenos de marinha e a Prefeitura poderia ter dado outra destinação para aquele espaço, uma praça, um local para formar mão-de-obra, um órgão da Prefeitura, uma obra que pudesse ser apreciado pelos que chegam na cidade. Aquele visual poderia ser melhor.

Ainda resta o terreno da Serraria que poderá ser adquirido pela Prefeitura e destinado a algum projeto que venha beneficiar o povo. Constata-se que Ponta de Pedras é carente desses espaços, pois, os que existiam foram ocupados em outras administrações.

Ponta de Pedras precisa crescer, o povo precisa de projetos que possa gerar rendas, mas para isso, é preciso pensar em investimentos, principalmente em obras que, de alguma forma, beneficie a população.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

LIDER QUILOMBOLA DO MARAJÓ É ASSASSINADO EM BELÉM



O líder quilombola Teodoro Lalor de Lima, conhecido como senhor Lalor, presidente da Associação dos Remanescentes de Quilombo de Gurupá, no município de Cachoeira do Arari, no Marajó, foi assassinado na manhã desta segunda-feira (19), em Belém. O crime aconteceu quando Lalor desembarcava para uma reunião na capital paraense de organizações quilombolas do Pará. Ainda não há informações sobre a forma em que foi assassinado.

No último dia 13, o presidente denunciou, durante uma audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal (MPF-PA) e Ministério Público do Estado, em Cachoeira do Arari, a perseguição de fazendeiros da região à comunidade quilombola. Ele disse ainda que ficou preso por dois meses sem acusação formal, a mando de fazendeiros que se sentem prejudicados pela demarcação das terras quilombolas.

Entre as denúncias feitas pelo líder quilombola, está também que crianças da comunidade estavam sendo presas por colher açaí em áreas quilombolas.

NOTA

De acordo com informações da nota enviada pelo Colegiado de Desenvolvimento Territorial do Marajó (Codetem), Diocese de Ponta de Pedras e Instituto Peabiru, na noite desta segunda-feira (19), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) entregou à Comunidade de Gurupá o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID).

A nota afirma que representantes visitaram o quilombo, no último dia 14, para saber a situação em que vivem os mais de 700 moradores. Eles afirmam que a comunidade está alarmada e pede ajuda do Ministério Público para que os direitos da população não sejam cerceados e que haja proteção das pessoas que fazem denúncias de discriminação e opressão.

(DOL com informações do Instituto Peabiru

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Cidade com pior IDH no país, Melgaço, PA, tem 50% de analfabeto.




Segundo IBGE, 12 mil habitantes não são alfabetizados. População depende de programas sociais, diz especialista

Metade dos moradores de Melgaço, no Pará, não sabe ler nem escrever. Segundo dados do censo do IBGE publicado em 2012, 12 mil dos 24 mil habitantes da cidade não são alfabetizados, e apenas 681 pessoas frequentam o ensino médio.
São dados como este que exemplificam o que foi apontado no levantamento feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que divulgou nesta segunda-feira (29) o "Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013". De acordo com a publicação, a cidade do Marajó tem o pior Desenvolvimento Humano do país.
saiba mais
O professor  do doutorado de Antropologia da Universidade Federal do Pará, Agenor Sarraf, nasceu em Melgaço e dedica sua pesquisa à cidade. Segundo ele, grande parte dos analfabetos são pessoas com mais de 15 anos, que não conseguiram estudar durante uma crise da educação ocorrida na década passada. "O número de professores leigos era muito grande: 75% dos professores não tinham magistério em 2001", disse.
O professor, que atuou como secretário de educação no período, conta que a cidade investiu na capacitação docente, mas hoje ainda faltam políticas para atrair e manter jovens e adultos na escola. "O município não consegue montar Ensino de Jovens e Adultos. As pessoas são pobres e precisam trabalhar. O município carece de programas para sucesso escolar", avalia.O G1 tenta contato com o prefeito de Melgaço, mas ainda não foi atendido.
Em nota, a Secretaria de Educação do Estado (Seduc), responsável pelo Ensino Médio, informou que uma nova escola de ensino médio deve ser começar a ser construída na cidade ainda em 2013, e que a Escola Estadual Tancredo de Almeida Neves irá integrar o programa Jovem de Futuro a partir de 2014. O projeto visa melhorar a qualidade do ensino através de novas metodologias pedagógicas.
A Seduc informa ainda que  a cidade de Melgaço também aderiu ao Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), coordenado pela Rede Estadual de Ensino, executado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) junto ao município, com a principal meta é de ter todas as crianças alfabetizadas até os 8 anos de idade.

Pobreza
Além da educação, a população de Melgaço também sofre com a pobreza: de acordo com o Mapa da Pobreza do IBGE publicado em 2003, 48% das pessoas do município são pobres,  grande parte da população do campo tem remuneração de R$ 71,50, fazendo com que as famílias na zona rural sobrevivam, em média, com R$ 662 por mês - menos que um salário mínimo.
Na área urbana a situação é um pouco melhor: cada família recebe, em média, R$ 1.493. Mas, segundo o Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (DIEESE), este valor é inferior ao necessário para atender as necessidades básicas da população. "O salário mínimo, para atender ao que determina a constituição, deveria ser de R$ 2.860,21. Com esse valor, o trabalhador conseguiria pagar alimentação, saúde, educação e lazer para a sua família", disse o economista Roberto Sena.
"O rendimento da população de Melgaço coloca essas pessoas abaixo da linha da miséria. Não dá para fazer nada com este dinheiro. A cesta básica para um trabalhador no Pará, segundo nossa última pesquisa, foi de R$ 280", pondera o economista.
Segundo Agenor Sarraf, existem poucas oportunidades de emprego na cidade. "De fato o município é muito pobre. 80% da população vive na zona rural, não há indústria.  A cidade não tem empresas desde a decadência da madeira e do palmito na região. As fontes de renda na cidade são a prefeitura, aposentadorias e programas sociais", revela o professor.
Segundo o Dieese, a situação de Melgaço ilustra a desigualdade no estado do Pará, que tem o 13º maior PIB do país, mas apresenta a 23ª renda. "É uma concentração de renda brutal: poucos têm quase tudo, e muitos têm quase nada. Ter o povo participando da renda é o grande desafio: o estado é rico, mas o povo tem situações de vida muito difícies, como é o caso de Melgaço", critica Roberto Sena.

Saúde
Segundo o professor Sarraf, faltam médicos, enfermeiros e remédios para atender a população de Melgaço. "A extensão territorial é grande. Se leva até 15 dias para cruzar o espaço, são mais de 6 mil quilômetros. A densidade demográfica é baixa, existem postos de saúde em vilas, mas a população se espalha pelos rios e isso dificulta as políticas de saúde".

Entenda o IDH
O IDH mede o nível de desenvolvimento humano de determinada região. É a terceira vez que o órgão da ONU realiza o levantamento sobre a situação nos municípios do país – outras duas edições da pesquisa foram divulgadas em 1998 e 2003.
No atlas de 2013, o IDH foi calculado com  base nos dados do censo demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No atlas de 2003, as informações são as do censo de 2000, e, para 1998, a base de dados foi a de 1991. No entanto, neste ano, o Pnud mudou os critérios de aferição do índice, e atualizou os dados dessas duas pesquisas anteriores com base nesses novos critérios (leia aqui sobre a nova metodologia).

O IDH dos municípios vai de 0 a 1: quanto mais próximo de zero, pior o desenvolvimento humano; quanto mais próximo de um, melhor - em Melgaço, o IDH é 0,418, o mais baixo das 5565 cidades pesquisadas. O índice considera indicadores de longevidade (saúde), renda e educação.

Fonte: G1 Pará

quarta-feira, 24 de julho de 2013

“Mais Saúde” foi inspirado no Marajó, diz ministro



Problemas enfrentados pela população da Ilha do Marajó “serviram de inspiração” para a criação do novo programa.
 
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, teve um dia agitado ontem (9) em Brasília. Pela manhã, falou à imprensa de todos os estados sobre detalhes do programa “Mais Saúde para o Brasil”, lançado na última segunda-feira pela presidente Dilma Rousseff. Padilha rebateu críticas de entidades médicas que ameaçam promover greve geral, caso sejam implantadas as medidas propostas pela Medida Provisória publicada ontem pelo Diário Oficial da União.
O ministro disse ao Diário que os problemas enfrentados pela população da Ilha do Marajó “serviram de inspiração” para a criação do novo programa. A região é a que apresenta a pior concentração de médico por habitante do país. Os gestores municipais não conseguem manter profissionais de saúde nos municípios, mesmo oferecendo altos salários e boas condições de trabalho, como unidade de saúde equipada, aparelhos para exames e medicamentos.
De acordo com Padilha, o Marajó é prioridade neste programa do governo. “Foi pensando no problema enfrentado pela população que criamos o programa. Estaremos junto à universidade (Universidade Federal do Pará) para coordenar o trabalho dos médicos na região, o pagamento será direto do Ministério, tudo isso dará mais segurança para que o médico fique nos municípios do Marajó”, informou o ministro.
Entre as resistências encontradas pelo ministro junto às entidades médicas estão as medidas que propõem mudanças nos cursos de medicina, como a criação do segundo ciclo. A proposta é de que os estudantes de medicina façam obrigatoriamente a chamada residência médica, pelo período de dois anos, em hospitais do SUS, condicionando o recebimento do diploma a esta medida, que passa a valer a partir de 2015.
As entidades de classe avaliam que essa mudança é uma exploração do profissional de saúde. Alexandre Padilha rebateu destacando que o serviço social obrigatório é quando o Estado escolhe para onde o profissional vai. “O médico em treinamento ficará dois anos na atenção básica, na medicina da família, na urgência e emergência, ligado à instituição formadora. Ou seja, a faculdade onde ele estuda vai ter que se aproximar da atenção básica e lá ele vai fazer o processo de treinamento. Não tem nenhuma relação com serviço civil obrigatório, disse., enfatizando que esses dois anos servirão para melhorar a formação dos profissionais e torná-los “especialistas de gente”, com uma visão mais geral e integral do paciente.
O ministro afirmou que o governo federal está “muito seguro” da validade jurídica do Programa Mais Médicos. “O momento é o do debate no Congresso [Nacional]. Quem tiver propostas diferentes para levarmos mais médicos à população brasileira apresente-as e vamos debater no Congresso. Não venham tentar cercear o debate e as medidas que o governo federal está tomando para resolver um problema grave no Brasil, que é ter médicos perto da população”, disse o ministro.
Ontem foram publicadas no Diário Oficial da União a medida provisória e os editais com as regras do programa, que visa ampliar o número de profissionais de saúde em municípios no interior do país e nas periferias das grandes cidades. No Pará serão 96 municípios beneficiados.
À tarde o ministro da Saúde participou da abertura da 16ª Marcha a Brasília em Defesa dos Municípios. Ele informou aos prefeitos que a pasta possui recurso disponível para“toda demanda de infraestrutura” na área de saúde nos municípios. Segundo Padilha, R$ 7 bilhões do ministério já estão sendo usados em obras de reformas em hospitais e mais R$ 5 bilhões serão disponibilizados esta semana para contratação.
BOATOS
O ministro foi vítima de boatos sobre sua formação.. Alexandre Padilha é médico infectologista pós-graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com diploma reconhecido pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) tendo, inclusive, supervisionado o Núcleo de Extensão em Medicina Tropical do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da USP. As acusações causaram mal estar em Brasília.
Formado na Universidade de Campinas (Unicamp), com residência na USP, o ministro, cuja primeira inscrição no Conselho Regional de Medicina é de São Paulo, pediu transferência para o Pará, onde implantou e coordenou o Núcleo de Medicina Tropical da USP em Santarém, tendo a experiência de levar médicos para a Amazônia.
Em nota, Padilha lamentou que “ataque pessoal seja usado para mascarar o debate sobre o “Programa Mais Médicos”, que levará estes profissionais para as regiões mais carentes dos municípios do interior e da periferia das grandes cidades”.
Fonte: Diário do Pará